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"Numa época de dissimulação, falar a verdade é um ato revolucionário." (George Orwell)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Felicidade no trabalho

Felicidade no trabalho: quais os ingredientes?

Há cerca de 20 anos, um estudo feito pela Universidade de Ilinois com executivos das 400 maiores empresas americanas apontou seis coisas que fazem as pessoas felizes.

95% dos entrevistados apontaram para seis ingredientes, sempre na mesma ordem, que compõem a receita da felicidade no trabalho.

Pela ordem:

1. Ter desafios;

2. Perspectiva de crescimento;

3. Reconhecimento;

4. Integração da equipe;

5. Sentir-se útil;

6. Ter um líder respeitado.

E o dinheiro? Não entra na lista?

Não. Pelo menos não quando falamos em ser feliz no trabalho.

Felicidade não se compra.

Um ambiente que não ofereça desafios, por exemplo, não tem como ser um ambiente feliz.

Se não temos uma perspectiva de crescimento, de valorização, dentro da empresa, de nada valerá ganharmos rios e rios de dinheiro.

Quanto ao reconhecimento: um elogio, um sorriso e a palavra certa fazem milagres.

Ser uma peça fundamental dentro da engrenagem de trabalho é fundamental para os trabalhadores, pois dá segurança e satisfação pessoal.

Ter um líder que incentive os seus comandados, valorizando-os e defendendo-os quando surgirem os problemas é também algo sempre bem-vindo dentro das empresas.

Valorização, reconhecimento, respeito, incentivo e segurança são coisas que dinheiro algum pode comprar.

De que adianta ganhar 5000 reais por mês e viver num ambiente “carregado”?

Vai existir felicidade num ambiente sem respeito, sem valorização?

Conclusão: a pesquisa, feita há cerca de 20 anos, continua atualíssima.

E serve como um alerta para todos os administradores, sejam eles públicos ou privados.

Que eles invistam em ações que tragam felicidade aos trabalhadores, os dividendos advindos destas ações serão altamente benéficos tanto para as empresas e administrações públicas quanto para a sociedade.

Luiz Carlos dos Santos

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas empresas Públicas Municipais de Toledo

(SINTRAEP)

E-mail: sintraep@ibest.com.br

Homenagem ao Che (Parte 2)

Cubanos lembram revolucionário

Fidel Castro homenageia Che Guevara

Havana (AE-AP) - O convales­cente presidente licenciado de Cuba, Fidel Castro, homena­geou ontem o líder guerrilheiro Ernesto Che Guevara em um ar­tigo para marcar os 40 anos da morte do médico argentino convertido em revolucionário.

"Faço uma pausa na luta diá­ria para inclinar o semblante, com respeito e gratidão, ante o excepcional combatente morto há 40 anos", escreveu Fidel em seu mais recente artigo, publi­cado na edição de ontem'do jor­nal Granma. Fidel agradece "pe­lo que tentou fazer e não pôde em seu país de nascimento, pois foi como uma flor arrancada prematuramente do caule". Guevara nasceu em 14 de ju­nho de 1928 na cidade argentina de Rosario. Ele foi executado na Bolívia em 9 de outubro de 1967, depois de ser capturado por soldados bolivianos apoia­dos por agentes americanos. Os restos mortais de Che fo­ram exumados e levados a Cuba em 1997. Atualmente repousam em um monumento em Santa Clara, 270 quilômetros ao leste de Havana. No local, ontem o presidente provisório de Cuba, Raúl Castro, participou do ato central em homenagem a Che. Ernesto, o filho mais novo de Che Guevara, passou diante do túmulo de seu pai, no memorial da cidade de Santa Clara, montado numa Harley- Davidson, em uma singular homenagem que ele e seus colegas motociclistas cubanos prestaram ao guerri­lheiro nos 40 anos de sua morte. Ernesto guardou um minuto de silêncio à saída do monu­mento, para depois prestar um ensurdecedor tributo: acelerou à toda velocidade sua moto vi­nho modelo 45, de 1937. "Estou aqui como um 'harlista' a mais", declarou Ernesto, que vestia uma camiseta e jeans azuis e era apenas um bebê quando o pai partiu para a Bolívia, em no­vembro de 1965.

(Artigo publicado no jornal O Estado do Paraná, do dia 09 de outubro de 2007, pág. 11, em homenagem ao guerrilheiro Ernesto Che Guevara)

Homenagem ao Che (Parte 1)

DOMINGO. 7 DE OUTUBRO DE 2007 O ESTADO DE S.Paulo

Che, O imaginário do sacrifício

Guevara morto inaugurou o novo testamento de uma nova práxis política: o marxismo latino, moreno e místico

José de Souza Martins

Os meses e anos seguintes àque­le meio de tarde de 9 de outubro de 1967, quando Ernesto Che Guevara foi executado sumaria­mente por um tenente do exército boliviano, revelariam alguns dos vários mistérios que esta­vam contidos muito mais naquela morte do que naquela vida.

Naquele momento, ali na ma­ta, na encosta dos Andes, no em­blemático limite que separa a planície da montanha, a Améri­ca branca da América indígena, e que separa também a América guarani da América quéchua, começaram várias agonias. A começar por seus algozes dire­tos, a maioria dos quais morre­ria de forma estranha e inespe­rada nos anos seguintes, como que executados pela espada de fogo de um vingador invisível.

- A rajada de fuzil no corpo do Che rasgou o véu do templo de nossas certezas, do alto até em­baixo, libertando os medos e as contradições do nosso imaginá­rio político místico. Um novo testamento se abriu na memó­ria e na história dos povos latino­ americanos, no marco de um realismo mágico difuso e persistente. Era o incompreendido no­víssimo testamento de uma no­va práxis política, de uma comu­nhão de sangue entre a fé e a política, o misticismo de uma re­primida esperança, messiânica e milenarista.

A morte de Che desdisse mui­ta coisa que ele não queria pes­soal e conscientemente desdi­zer e disse muita coisa que ele não sabia estar dizendo. Che dis­se aos seus captores que valia mais vivo do que morto. Para o misticismo político latino-ameri­cano ele valia mais morto do que vivo. Porque só os mortos do sa­crifício humano podem ressuscitar e entrar na eternidade das esperanças milenaristas tão pró­prias desta América sem rumo. "Saio da vida para entrar na his­tória", escreveu Getúlio Vargas, quando Se encontrava no pórti­co da morte. São poucos os que tem a coragem moral e cívica de abandonar as conveniências mesquinhas do agora e enfren­tar essa passagem tenebrosa, quando ela se impõe, para servir ao povo na imortalidade genero­sa do sempre: Getúlio, Che, Al­lende. Eles sabiam que iam mor­rer porque o que personifica­vam neste mundo estava mor­rendo. Pouco importa se deles discordamos ou com eles concor­damos. No reino do sempre e da esperança não há fraturas, não é ele um mundo racional e lógico. O milenarismo latino-ameri­cano se expressa no rústico de libertações assim, que abrem a partir do mundo dos mortos a porta imaginária das inversões e as conversões, da busca da esperança nos contrários do que a morte rompeu. Quando o cadáver de Che Guevara chegou a La Higuera, para a autópsia e a injeção de formol que o preservaria, da pequena multidão fazia parte uma freira, de hábito branco, que aparece nas fotos, que ria o tem­po todo, misturada com milita­res, jornalistas e agentes da CIA, testemunhou o jornalista inglês Richard Gott, enviado pe­lo Guardian. O riso da freira ex­pressava a satisfação anti-co­munista de quem fora educada na religiosidade anacrônica de um mundo dividido entre o bem do capitalismo e o mal do comu­nismo. Mas aproximou-se do grupo, também, uma campone­sa que gritava "Assassino!", eco da propaganda militar na área. Ao ver o rosto do Che, silenciou e disse: "Meu Deus! Como ele era bonito!" Uma das fotos do corpo de Che, feitas na ocasião, foi difundida e interpretada co­mo o retrato de um Jesus Cristo latino-americano. Os católicos progressistas se tornariam os principais apóstolos dessa res­surreição simbólica. A morte de Che também con­sumou a ruptura interior da es­querda, isolou simbolicamente os partidos comunistas, esva­ziou o seu apelo proletário para dotar o inconformismo social dos pobres de uma mística sa­crificial que tem em Che o cor­deiro da história. Inverteu o nos­so imaginário de esquerda, fa­zendo da tradição popular e con­servadora, comunitária, religio­sa e anti-capitalista, o cerne de um novo socialismo, crioulo e popular, tendente ao étnico invertido. Nele, mestiços, índios e negros invertem imaginaria­mente a pirâmide social iníqua e branca, num projeto social e político de meios tons políticos, meios tons sociais, meios tons religiosos, meios tons econômi­cos, meios tons raciais. Na captura e morte de Che começou a sucumbir o marxis­mo mecanicista de Louis Al­thusser, viabilizado pela aventu­ra intelectual de classe média de Régis Debray, um dos primei­ros prisioneiros dos militares bolivianos. Místicos ambos, criaram e viabilizaram um mar­xismo tomista e departamenta­lizado, anti-marxiano, ideologi­camente útil às aventuras de classe média que se quer liberta­dora. A teoria do foco, de De­bray, da guerrilha dos desgarra­dos da elite, que desencadeia a revolução dos pobres, também morreu na quebrada do Yuro. A guerrilha de Che Guevara não se propunha a realização de uma revolução camponesa, a re­volução dos pobres na Bolívia, como se supõe ainda hoje. Era apenas uma extensão geopolíti­ca da Revolução Cubana, na perspectiva por ele proclamada de criar vários Vietnãs e por em xeque o poderio americano. No fim, Che lamentava não ter se aproximado dos camponeses da área 'da luta. Era tarde. Eles temiam os guerrilheiros. Por medo ou prudência, os delata­vam ao exército. Ou fugiam, abandonando as plantações e as casas. Mas a guerrilha não tinha neles a menor confiança, não os via como suj eitos da suposta re­volução latino-americana. Na tarde da véspera de sua prisão e antevéspera de sua morte, uma das últimas linhas do diário de Che é relativa a uma velha camponesa, que ti­nha uma filha prostrada e outra meio anã, a quem os guerrilhei­ros deram 50 pesos para que não os denunciasse ao exército, que já os cercara. Escreveu o Che que eram "poucas as espe­ranças de que cumpra (a pala­vra) apesar de suas promes­sas". Na edição eletrônica do diário, o Centro de Estudos Che Guevara, de Cuba, esclarece que "a velha das cabras nunca foi delatora, nunca falou com os militares, não denunciou o Che. Chamava-se Epifania Cabrera e já faleceu. Foi-se para a monta­nha com as filhas, com medo das represálias do exército." A revolução sem povo sucumbiu ao silêncio da quebrada do Yu­ro. Epifania partira. •

· José de Souza Martins é professor titular de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP

Domingo, 07 de outubro de 2007 (Folha de São Paulo)