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"Numa época de dissimulação, falar a verdade é um ato revolucionário." (George Orwell)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Análises sobre acidentes de trabalho

A história humana é permeada de acidentes que causaram vítimas, como Bhopal, Chernobyl, Challenger, acidentes aéreos, automobilísticos... Para explicar a ocorrência desses acidentes de forma empírica os pesquisadores consideravam como sendo “erro humano”, ou seja, centrado nas demandas cognitivas, perceptuais e fisiológicas dos operadores dos sistemas. Em seguida, os estudos científicos associavam a ocorrência de acidentes às condições do trabalho. O erro humano é inerente ao processo cognitivo e é afetado pelo contexto em que está inserido. As possíveis causas para o erro humano são: políticas da organização, comunicação, controle e conhecimento sobre os processos, problemas de saúde, carga de trabalho, motivação, estado emocional do trabalhador, condições, organização e relações sociais do trabalho, dentre outros. Para os sociólogos do trabalho Jacques Leplat e Gilbert de Terssac, o erro humano era considerado desvio com relação a uma norma, sendo necessário compreender a tarefa prescrita (o que deve ser feito) e a atividade (que gera o comportamento do trabalhador). O doutor Pierre Falzon afirma que “a tarefa prescrita é o que se espera, implícita ou explicitamente do operador. Ela reúne, portanto, a tarefa explicitada e a tarefa esperada”. O autor Maurice Montmollin demonstra que os erros também são caracterizados por dois tipos: erros de superfície e erros profundos. Os erros de superfície são baseados em habilidades e lapsos que ocorrem quando o operador apresenta uma atitude involuntária, gerada por uma confusão, ou seja, a ação pretendida não atinge seu objetivo. Esses erros são provocados por uma falha na atenção dedicada durante a realização de uma tarefa. Os erros profundos são enganos baseados em regras ou relacionados aos conhecimentos, objetivos e raciocínios do operador, em que ocorrem diagnósticos enviesados. Nesse caso, acontece falha no processo de julgamento e/ou interferência envolvida na seleção de um objetivo ou na especificação de meios para atingi-los. Para os ergonomistas, estes últimos são chamados de falhas. A falha humana resulta das interações homem-máquina e homem-ambiente dentro de um sistema sócio-técnico. A nova visão sobre o erro humano considera os acidentes como fenômenos emergentes, sem causas claras, em que desvios podem ocorrer devido a problemas profundos no sistema (desordens no interior das organizações). Erro humano não significa, necessariamente, desatenção ou negligência do trabalhador. Portanto, é necessário compreender o seu comportamento e seu sentido na hora em que ocorreu o acidente. A velha visão procura um culpado, e a nova busca a prevenção e a Segurança do Trabalho. No Brasil, o “método” de análise de acidentes hegemônicos é a culpabilização da vítima, tornando-se um impedimento para a construção técnica e social de ações e políticas efetivas de prevenção. Portanto, analisar o erro e culpar o trabalhador não contribui para reduzir os custos humanos dos acidentes e aumentar a eficiência do trabalho. Autores: Izabel Carolina Martins Campos, Roberto Moraes Cruz, Leila Gontijo e Laudinei Lauro Francisco Fonte: Revista Proteção